Há diversas ruínas romanas em Portugal. Aqui em Lisboa, já tivemos a oportunidade de visitar algumas no centro histórico ligadas a preparação e o comércio do peixe, por exemplo. Desvendar a rotina e a cultura romana por meio de vestígios, por vezes, tão ricos, é cativante. É como se pudéssemos recriar a história diante de nossos olhos. Assim, durante a viagem que fizemos nesse outono a Coimbra e a Serra da Lousã, incluímos também uma passagem por Conímbriga – uma das cidades romanas mais importantes dentro do perímetro português.
Como é a visita as ruínas romanas de Conímbriga?
Como chegar a Conímbriga?
Chegar a Conímbriga é muito fácil.
A ruínas ficam na freguesia de Condeixa-a-Velha, a 20 minutinhos de Coimbra, quase que em uma reta só.
Basta seguir de carro a partir do centro histórico de Coimbra pela Rua do Observatório e pegar a IC2/ IC3, sentido Condeixa-a-Nova. Fique de olho nas placas, pois o percurso está bem sinalizado. Se você tiver acesso ao Google Maps, será ainda mais tranquilo – pois há também a indicação marcada.
Para quem segue do Porto, dá para fazer em bate-volta, em pouco mais de 1h de viagem, sempre pela A1.
De Lisboa, basta seguir como se estivesse indo para Coimbra, também pela A1, sentido norte. Você chegará em 2 horas, aproximadamente.
O estacionamento é amplo e gratuito.
De transporte público, creio que a melhor forma seja fazer o percurso que a Luíza, do blog 360 Meridianos, sugeriu (em um artigo muito legal sobre a visita dela): pegar um ônibus em Coimbra (a rodoviária fica perto do centro histórico, a cerca de 1km) para Condeixa-a-Nova e, de lá, usar um táxi até Conímbriga.
O que são as ruínas romanas de Conímbriga?
Conímbriga é conhecida por ser uma das maiores áreas de vestígios romanos em Portugal e também das mais importantes da Península Ibérica.
Ela foi habitada entre os séculos IX a.C. e VIII d.C. e a chegada dos romanos se deu entre os séculos II e I a.C..
Foi nessa época que Conímbriga teve amplo desenvolvimento e se transformou em uma cidade romana relevante para a Lusitânia.
Essa área começou a ser escavada no final do século XIX (você poderá ler mais sobre a exploração no site da Universidade de Coimbra) e foi aberta ao público em 1930.
Entretanto, ela é constantemente renovada e alvo de estudos – o que a torna permanentemente atualizada.
Abro aqui um parênteses para dizer que vimos uma excursão escolar por lá durante a nossa visita.
Eu, particularmente, adoro ver os miúdos fazendo atividades em locais como esse, de enorme importância histórica.
É também uma forma de aproximar visualmente as crianças de antigas civilizações e cativá-los com isso – pois, nem sempre, temos essa oportunidade.
Portanto, se você vai viajar com os seus filhos, essa também pode ser uma atração que vale colocar no roteiro – principalmente para aqueles com mais de 10 anos, que podem compreender ainda melhor o contexto.
Prepare-se para a visita!
É engraçado, pois Conímbriga nos dá a sensação de que foi aberta a pouco tempo ao grande público, sobretudo por tamanho cuidado, limpeza e organização que as ruínas oferecem, seja pelo percurso, na inclusão de um café/ restaurante e, claro, pela estrutura do museu mantido ao lado das ruínas, que nos ajuda a mergulhar nesse universo não somente estrutural, mas também da vida local, com objetos e os costumes da vida romana.
Vá com tempo para aproveitar, absorver, entender e, claro, imaginar como Conímbriga era.
Dedique, pelo menos, 2h30 para esse passeio. Passar rapidamente por aqui não vale a pena.
A maior parte do percurso é feita a céu aberto. Ou seja, não é indicado para horários de forte exposição solar. Se você pretende ir em uma época quente, programe-se para chegar lá no primeiro horário do dia (eu já tive uma experiência assim no Forum Romano, em Roma, no auge do verão, às 15h. Não, não faça isso rs.).
Para quem ainda está engatinhando nessa fase da história romana, como eu e o Rafa, sugiro que prepare a sua visita antecipadamente baixando gratuitamente o aplicativo JiTT Travel – disponível para Android e iPhone. Depois de instalado, selecione o idioma “português” e procure pelo guia oficial de Conímbriga. Ele é bem prático, pois oferece a sugestão de um percurso em detalhes a partir do tempo que você tem disponível. Infelizmente esse aplicativo não está mais disponível. Entretanto você poderá agendar uma visita guiada, se desejar. Basta contactar o Serviço Educativo pelos e-mails se@mmconimbriga.dgpc.pt / comunicacao@mmconimbriga.dgpc.pt ou pelo telefone +351 239949110.
O que ver em Conímbriga?
Como essa área é constantemente estudada e, sempre que possível, escavada, o que vemos hoje não é a totalidade de uma cidade (nem de todas as descobertas), mas alguns dos quebra-cabeças desvendados em meio as essas ruínas.
Além da área a céu aberto, há também um museu complementar a visita com informações sobre o desenvolvimento local e também objetos encontrados por ali.
Ao longo do percurso, vemos uma muralha de defesa construída no século III, um pequeno trecho da via romana, que ligava Olissipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga), estruturas de casas – algumas com impressionantes mosaicos no chão -, as termas, o forum, o anfiteatro, edifícios comerciais e o aqueduto.
As casas de Conímbriga
Após passar pelo controle dos bilhetes, o que vemos logo a frente são buracos quadrados no chão, emoldurados com pedra, chamados de Lojas a Sul da Vila – uma área de comércio de Conímbriga.
Entretanto, mais adiante, vemos muitos pisos de mosaico, além de jardins e muitas colunas. Tais elementos fazem parte de casas expressivas do século I.
De um lado está a Casa dos Esqueletos, que também inclui algumas áreas independentes – possivelmente pequenos armazéns – abertas para uma viela, separando a residência das termas.
O nome se refere a um cemitério medieval posterior a essa fase que foi construído aqui. As sepulturas ficaram por cima dos mosaicos e acabaram por prejudicar sua conservação.
Depois, também podemos ver a Casa da Cruz Suástica. Aqui, o que nos chama a atenção em alguns mosaicos são, justamente, o tema da suástica. Para os romanos, a suástica tinha um sentido mágico, de boa sorte, e era diretamente ligada ao sol.
Você também poderá se orientar pelas placas explicativas colocadas a cada bloco de ruínas.
Entre as orientações das casas, por exemplo, você vai perceber algumas nomenclaturas comuns, como o cubículo (sala de estar) e o triclínio (sala de refeições).
Do lado direito, com uma cobertura, está a Casa dos Repuxos. Esse talvez seja um dos pontos auge do passeio, pois se trata daquela imagem mais famosa de Conímbriga (e que eu tanto, tanto, tanto aguardava rs.).
O trabalho de restauro dessa área é impressionante. Ela foi descoberta em 1907 e escavada em 1939. Podemos até ver o chafariz em funcionamento (basta colocar uma moedinha na máquina).
Esse aqui era um edifício com dois pisos: o térreo, onde estão detalhados mosaicos nas salas que rodeiam o tanque e o jardim, dos séculos I e II, e a cave, com algumas áreas de suas ruínas também visíveis.
Nesse trecho, o passeio é feito por cima, a partir de uma plataforma.
Há ainda outras casas para ver, destacando também a Casa de Cantaber, a maior residência privada descoberta aqui, com 3.500 metros quadrados, e as ínsulas – típicas habitações romanas dedicadas aos desfavorecidos.
Forum de Conímbriga
O segundo momento uau! desse passeio, na minha opinião, é o forum.
Essa área foi descoberta durante as escavações de 1964 a 1971 – ou seja, bastante recente dentro do universo que envolve esse monumento – mas infelizmente com muita degradação.
Ao longo da história, essa área teve outros usos, sendo uma delas como cemitério, o que dificultou bastante na sua identificação. Porém, mesmo assim, é um ponto bastante imponente e ninguém fica indiferente a ele durante a visita.
Esse local sagrado, dedicado ao culto dos imperadores divinizados e de sua família, está localizado no que seria o centro urbano de Conímbriga.
Dentro do museu, você também poderá ver uma maquete que mostra como esse forum possivelmente teria sido construído, delimitado por um único muro, tendo sua abertura somente na entrada monumental (veja a foto mais a frente do post).
Termas, aqueduto, anfiteatro e outras construções
Outra coisa que nos chamou a atenção foram as Termas do Aqueduto e as Termas da Muralha – sendo a primeira possivelmente pública e construída entre os séculos II ou III, e a segunda do século I, mais antiga, dividida em dois setores: provavelmente um masculino e outro feminino.
Há ainda as Grandes Termas do Sul, que ocupavam um espaço expressivo para os banhos da comunidade de Conímbriga, além de vestígios de outros edifícios de comércio e indústria, o anfiteatro e o aqueduto que dão forma a todo esse espaço da cidade romana.
Museu Monográfico de Conímbriga
Para ajudar na compreensão dessas complexas ruínas, há ainda um museu moderno e rico em informações.
Ele reúne objetos encontrados nas diversas fases de Conímbriga e é dedicado plenamente a explicação e materialização desse espaço arqueológico.
Você vai percorrer salas que retratam o ambiente, os aspectos da rotina da cidade e também da vida religiosa, superstições e culto aos mortos.
Destaque para a sala que é totalmente dedicada ao forum – com aquela maquete que comentei.
Percurso pedestre: Rota de Conímbriga
Há ainda uma forma bem diferente de conhecer Conímbriga, para os amantes da natureza, da cultura e das caminhadas, que é por um percurso pedestre.
Por aqui passa o trajeto identificado como PR1-CDN, a “Rota de Conímbriga“.
Ele é circular, tem o total de 16km, percorridos em, aproximadamente, 5 horas, o nível de dificuldade varia entre fácil e médio, ou seja, com pouco esforço físico e pequenas adversidades para quem está acostumado com longas caminhadas, idealmente para ser feito nos períodos de primavera e outono, a dias com pouco calor e sem chuva.
O caminho sai das ruínas e segue para o Vale do Rio dos Mouros, passando pela aldeia do Poço das Casas, a Mata da Alfarda, o Castellum de Alcabideque, mais vestígios do Aqueduto Romano de Conímbriga, o museu multimédia POROS (dedicado a Portugal Romano e Sicó – que ainda não tivemos a oportunidade de visitar) e Condeixa-a-Velha.
Museu Nacional de Conímbriga
Endereço: Conimbriga, Condeixa-a-Velha
Horário: todos os dias, das 10h às 18h (fecha nos dias 1 de janeiro, domingo de Páscoa, 1 de maio e 25 de dezembro). Aos domingos, até às 14h, a entrada é gratuita para os residentes em Portugal.
Ingresso: 8€
Site ofiical
Viaje a Portugal com tudo organizado
10 Comentários
Que lindo, me animei para visitar!!
Adoro essas descrições de vocês.
Sobre a suástica: a original, mais antiga e considerada símbolo de boa sorte, é a suástica que roda em sentido horário.
Quando os alemães se apropriaram dela, trocaram para o sentido anti-horário a conselho de estudiosos de misticismo ligados a Hitler.
Enfins, uma pena. Vi uma explicação interessante aqui:
http://despertarcoletivo.com/a-verdade-sobre-a-suastica/
Beijos!
Olá, Lia
Tudo bem?
Agradeço o seu carinho e explicação :)
Um grande beijo
Olá.
Estive recentemente neste maravilhoso sitio arqueológico e pude constatar o que havia visto virtualmente. Mesmo sabendo que os romanos tinham uma vida, com padrões requintados, fica difícil imaginar a infraestrutura de que eles dispunham. Basta ver o sistema de Água, as termas, o anfiteatro, o mosaico das casas, etc. Me chamou a atenção, também, os cuidados com a segurança, com o adorno, basta ver o acervo do museu. Gostei muito.
Encantado, inclusive com o estágio da preservação do sítio, assim como do Museu.
Olá, Ronildo
Tudo bem?
Agradecemos o seu comentário! :)
A preocupação e o cuidado com a história do local também chamou a nossa atenção. Foi uma ótima visita.
Um abraço!
Eu e minha familia iremos visitar Conimbriga no dia 31 de janeiro, quinta-feira. Pergunto se existe visitação eguiada e os horários. Desde já, agradeço a informação.
Olá, Maria Laura
Tudo bem?
No site do Museu e Ruínas de Conimbriga não informa se há visita guiada. Aconselho que entre em contato com eles pelo e-mail info@conimbriga.pt ou telefone +351 239 941 177 ;)
Um abraço e boa visita!
Olá! Sim, existem visitas guiadas mas com marcação prévia para os contactos se@mmconimbriga.dgpc.pt / comunicacao@mmconimbriga.dgpc.pt ou +351 239949110
Informo que o nosso horário é: 10H – 18H (sendo o último bilhete tirado até às 17:15), domingo e feriados até às 14H oferecemos o bilhete para residentes em Portugal
Obrigada pela reportagem!!!
Muito obrigada pela mensagem e observações. Já atualizamos o artigo. :)
O vosso Museu é fantástico!
Na foto dos azulejos com a suástica, apercebi-me de que algo estava errado na foto, que era, haver suásticas. Será que os Romanos previram o Nazismo? Porque acho que serviu de inspiração para Hitler e as maldades dele!
:/
Olá, Tomás
Tudo bem?
A suástica é um símbolo muito antigo, já foi usado por muitos povos ao longo da história e tem diferentes significados. ????
Um grande abraço!