Vamos conhecer alguns dos objetos pessoais da rainha D. Maria II de Portugal? Aproximando-se destas peças podemos perceber um pouco da rotina e a intimidade da princesa brasileira Maria da Glória que deixou sua marca na história de Portugal.
Para isso, gravamos um vídeo durante a nossa visita a exposição “D. Maria II. De princesa brasileira a rainha de Portugal”, que homenageou o bicentenário do nascimento de D. Maria II, na Galeria D. Luís – Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, em 2021.
No final desse post você poderá assistir ao vídeo sobre os objetos de D. Maria II!
Quem foi a rainha D. Maria II de Portugal?
Voltando um pouco no tempo, vamos até a virada do século XIX, quando a Dona Maria I era a rainha de Portugal e seu filho, D. João VI, o príncipe regente.
Por causa das invasões francesas, a família real portuguesa atravessou o Atlântico rumo ao Brasil em novembro de 1807 e deixaram os franceses, literalmente, a ver navios.
Um dos filhos de D. João VI e de sua esposa, D. Carlota Joaquina, é aquele que conhecemos por D. Pedro I do Brasil.
D. Pedro I do Brasil, por sua vez, se casou com D. Leopoldina (arquiduquesa Leopoldina de Habsburgo). Foi dessa união que nasceu a primeira filha do casal no Rio de Janeiro, a princesa Maria da Glória.
Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança nasceu no Palácio de São Cristóvão, em 1819.
Sim, estamos falando de da irmã mais velha do D. Pedro II do Brasil. Mas, diferente do irmão, ela foi mandada para a Europa para assumir o trono de Portugal no lugar do seu pai, o D. Pedro I do Brasil (D. Pedro IV de Portugal).
E foi aí que a princesa Maria da Glória se tornou a rainha D. Maria II de Portugal.
A D. Maria II recebeu o título de rainha ainda criança, aos 7 anos, e assumiu o trono aos 15. Ela foi a última mulher na posição mais alta da chefia de Portugal até os dias de hoje.
Ganhou o cognome de “A Educadora”, pois o ensino foi uma das prioridades durante seu reinado – inclusive com seus filhos.
Dois de seus filhos tornaram-se reis de Portugal: D. Pedro V e D. Luís I.
Ela teve formalmente três casamentos, entretanto, foi somente o último que teve expressão na sua vida pessoal – com D. Fernando II (lembramos facilmente dele quando o relacionamos à construção de um dos monumentos de Sintra mais marcantes da vila: o colorido Palácio da Pena).
D. Maria II faleceu aos 34 anos, em 1853, durante o parto de seu 11º filho. Seu túmulo, hoje, está no Panteão da Casa Bragança, dentro do Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.
Agora, o que será que alguns dos objetos pessoais da rainha podem nos revelar sobre sua história e personalidade?
Objetos curiosos da rainha D. Maria II
Leito de D. Maria II
Essa cama terá eventualmente sido encomendada por seu avô D. João VI a um marceneiro francês para a mãe da princesa D. Maria da Glória, a arquiduquesa Leopoldina de Habsburgo, que casou em 1817 com o príncipe D. Pedro (na época herdeiro do trono do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e futuro D. Pedro I do Brasil).
A D. Maria terá levado a cama da sua mãe do Brasil a Portugal para os seus aposentos privados, junto com outras peças que a faziam recordar o tempo feliz da sua infância no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.
Esta cama faz parte da coleção permanente do Palácio Nacional de Mafra. É para lá que ela voltará ao término desta exposição – caso você queira a ver. ;)
Serviço de porcelana
As escolhas pessoais de D. Maria II tinham uma série de influências.
Neste conjunto de porcelana fabricado na França (com oficina de decoração em Paris), é possível observarmos cores e motivos tropicais, que certamente traziam a D. Maria II as memórias da infância passada no Brasil.
“Temos sempre uma nota de colorido e tropical que deriva da infância no Brasil desta jovem rainha. É com grato carinho que observamos isso. Que há sempre uma nota brasileira em tudo o que encomenda quer nas cores vibrantes, quer nos pássaros tropicais, quer até nos objetos que se faz acompanhar até nos seus aposentos“, nos contou a Dra. Teresa Marecos, coordenadora do Serviço Educativo do Palácio Nacional da Ajuda.
Mecha de cabelo da D. Maria II de Portugal
O objeto mais curioso desta lista é também o nosso favorito.
Em uma exposição enorme e com tanta riqueza artística, o que faz ali uma mecha de cabelo com quase 200 anos?
Mas por que será que ela cortou essa mecha de cabelo?
E para quem ela ofereceu?
“Há uns anos, para uma outra exposição, estavam a fazer a investigação e encontraram a carta de um nobre brasileiro para o D. Luís. Este D. Luís, filho da D. Maria II. Portanto, estamos a falar da mesma família. E esse nobre brasileiro dá os parabéns pelo nascimento de D. Carlos, que assegurava a coroa de Portugal, e dizendo que oferecia ao rei D. Luísum presente que ele tinha recebido em criança. Ele, em criança, conheceu, na cidade do Rio de Janeiro, D. Maria da Glória com 7 anos. Ela corta uma mecha de cabelos e oferece a esse jovem menino nobre. Passado tantos anos – já a D. Maria tinha morrido, o D. Luís era um homem, pai do primeiro filho – ele recebe esse presente que o deve ter emocionado”, nos explicou o Dr. José Alberto Ribeiro, diretor do Palácio Nacional da Ajuda.
Estandarte liberal de D. Maria II
D. Maria II era bem jovem quando o bordou com suas próprias mãos essa bandeira para presentear o Batalhão de Caçadores número 5 que defendia o regime liberal do qual ela fazia parte.
Mas há aqui mais um detalhe importante além dessa referência histórica, que é o seu gosto pelas cores da bandeira. E a Dra. Teresa Marecos nos contou uma curiosidade sobre isso:
“Irão reparar que a rainha faz-se sempre a representar nas telas utilizando estas cores: o azul e o branco – as cores do estandarte liberal. Mas sabemos que o azul também constituía uma de suas cores favoritas. Por exemplo, ela encomenda de Paris um vestido azul, que foi o vestido com o qual se apresentou pela primeira vez ao seu marido, D. Fernando.”
Piano
Não dá para ficar indiferente a um instrumento musical tão bonito nesta exposição e que pertenceu a rainha.
D. Maria II aprendeu a tocar piano com o músico João Domingos Bomtempo, mas teve pouco tempo para se dedicar.
Entretanto, esse instrumento trouxe para a nossa conversa a grande importância que ela deu para os estudos – o que mais tarde fez com que a rainha ficasse conhecida como “A Educadora”.
Aqui na exposição, a Dra. Teresa Marecos nos mostrou essas referências, esse valor que D. Maria II dava para os estudos:
“A educação que ela própria não conseguiu usufruir devido ao contexto político de muita instabilidade que viveu, ela vem a querer essa educação, querer desenvolver infra-estruturas na área de educação, cria liceus, cria escolas primárias, e vem a desenvolver e a bater-se que essa educação seja disponibilizada quer aos seus 11 filhos, quer a todos os portugueses.“
Coroa de Portugal
Logo que entramos na exposição temporária do Palácio Nacional da Ajuda, vemos a Coroa de Portugal – que há mais de 20 anos não era exposta ao público.
Esta coroa de Portugal foi feita no Brasil para a aclamação do rei D. João VI.
Você sabia que a coroa de Portugal passou de monarca para monarca?
Eu, particularmente, achava que a cada novo rei ou uma nova rainha era feita, então, uma coroa de acordo com seus gostos pessoais.
Mas o Dr. José Alberto Ribeiro nos esclareceu essa dúvida:
“A coroa é um símbolo, mas não é um bem pessoal. É a coroa do país e, portanto, ela vai passando de monarca em monarca que vai herdando a coroa (até ao último monarca de Portugal, D. Manuel II, em 1910, com a implantação da República).”
E olha aqui a coroa nesse primeiro retrato oficial da rainha:
“Alguns destes objetos, tais como a coroa, o ceptro e alguns objetos que eram jóias da rainha D. Maria II, estarão, em breve, na recém reconstruída ala do Palácio Nacional da Ajuda, onde vai ser colocado o Museu do Tesouro Real. Ou seja, todas as grandes peças de ourivesaria, de joalheria, ligadas à Casa Real Portuguesa vão estar de uma forma permanente para que todos os visitantes, nacionais e estrangeiros, possam ver.”, convidou o Dr. José Alberto Ribeiro. :)
Vídeo sobre os objetos de D. Maria II
Você sabia que o Cultuga tem um canal no YouTube? Por lá, também mostramos muito de Portugal!
Assista ao vídeo que fizemos sobre estes objetos indicados no artigo, incluindo as entrevistas com o Dr. José Alberto Ribeiro e com a Dra. Teresa Marecos:
Viaje a Portugal com tudo organizado
5 Comentários
Saudações! Porque não se fala de uma bíblia aprovada em 1842 pela RAINHA D Maria 2a. Traduzida pelo padre Antônio Pereira de Figueiredo . Tenho um exemplar .Lisboa 1924 .Gostaria de saber. Desde já agradeço cordialmente Débora
Fica a curiosidade de que nenhum rei ou rainha da 4a dinastia, a que pertence D. Maria II, alguma vez usou a coroa. Como se vê nesse quadro, ela está pousada ao lado da rainha e não em uso sobre a sua cabeça. Isto deve-se ao facto de, aquando da Restauração em 1640, a coroa ter sido oferecida à Virgem Maria, rainha e padroeira de Portugal. Desde aí mais nenhum monarca português usou a coroa porque, devido à promessa, esta não lhes pertencia.
Muito obrigada pela mensagem, Sofia!
É curioso como a condição brasileira de D. Maria II tem sido apagada da História, apesar de ela ter nascido no Brasil, em 1819, ter sido cidadã brasileira de 1822 a 1831, de ter sido a primeira herdeira do trono do Brasil, de 1822 a 1825, e de aí ter passado a sua infância e feito a sua primeira aprendizagem. Tinha curiosidade de saber qual terá sido a relação de D. Maria II com o Brasil quando foi rainha de Portugal, de 1834 a 1853. Sei que ela se correspondeu com o irmão, D. Pedro II, que visitou o seu túmulo em Lisboa, em 1876, quando ela já tinha morrido há 23 anos. É curioso como Carmen Miranda é muitas vezes reivindicada como sendo portuguesa, apesar de ter ido para o Brasil aos 3 meses de idade, enquanto os brasileiros quase nunca se lembram que tivemos uma rainha brasileira de nascimento e que chegou a ter essa nacionalidade na infância.
Isto significa Roubo Imperial pelo Vaticano que cuida de tudo para D Pedro l .Elevam Pedro ll como maior sendo o segundo filho