A Universidade de Coimbra é aquela visita indispensável para quem deseja conhecer Coimbra. Percorrer sua estrutura e interiores também é mergulhar na história de Portugal e nas tradições da região. Somente a título de curiosidade, todo o seu complexo foi reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 2013.
Visitar a Universidade de Coimbra: como aproveitar
A vida universitária de Coimbra
Apesar da faceta estudantil não ser a única característica de Coimbra, ela é bastante presente nas ruas da cidade e em sua atmosfera por todo o ano. A começar por um dos principais símbolos de Coimbra, que é a Torre da Universidade, vista de diversos pontos do centro histórico.
Por entre as ruas, vemos também repúblicas estudantis – algumas já reconhecidas pela Câmara de Coimbra (equivalente a prefeitura) por seu interesse histórico ou cultural. E, claro, o vai-e-vem dos próprios estudantes no período letivo (que começa em setembro e termina maio, tendo os meses de junho e julho para exames e o mês de agosto para as férias de verão – quando não sobra um único aluno na cidade rs.) – por vezes, com aqueles trajes tradicionais cobertos por uma capa preta (também inspiração para a escritora J.K. Rowling ao criar o uniforme dos estudantes na saga Harry Potter).
Programa completo – Do Paço ao Colégio
Eu e o Rafa optamos pelo percurso chamado de “Programa 1 – Do Paço ao Colégio“, o mais abrangente – e recomendo vivamente. Para fazê-lo por completo e com calma, é ideal dispor de meio período do dia. Esse é o único programa que inclui a Biblioteca Joanina.
Onde comprar o bilhete para visita
Os ingressos são vendidos em diversos pontos, mas sugiro que você os compre no edifício da Biblioteca Central, em frente a Faculdade de Letras. A visita não é guiada. Portanto, a partir do mapa que a Universidade oferece, você pode escolher a ordem, os locais que deseja conhecer e o tempo que poderá dispor para cada um deles. Ah, e cada sala de visita há sempre folhetos explicativos com curiosidades e informações históricas para enriquecer o passeio.
Edifícios para visitar no Paço das Escolas
Assim, indico que você comece pelos edifícios do Paço das Escolas. Passe pela Porta Férrea e atravesse o pátio na sua diagonal esquerda (e desça as escadinhas) para visitar o principal cartão postal, a famosa Biblioteca Joanina. Ela já foi nomeada inúmeras vezes como uma das mais bonitas do mundo. Esse é o único local da visita que a entrada é controlada por horário. As portas são abertas a cada 20 minutos.
Biblioteca Joanina e Prisão Académica
A entrada da Biblioteca Joanina é feita pela Prisão Académica, um espaço que foi utilizado para punir professores, funcionários e alunos, seja em delito, seja por razões de índole, separadamente de uma cadeia comum até 1834.
Esse espaço é uma construção do Século XVIII, mas com alguns dos elementos da prisão academica medieval originais do século XVI.
Entrar naquela Biblioteca é um colírio para os olhos. São 10 minutos para caminharmos pelas três salas e percebermos os detalhes das estantes de carvalho, das pinturas, das preciosidades lá guardadas e, sobretudo, das suas cores e preservação. Não é permitido fotografar – e essa é uma boa desculpa para largar um pouco a câmera e o celular e se concentrar na beleza do espaço.
A construção dessa biblioteca barroca e luxuosa foi uma obra do rei D. João V – um sujeito, digamos, ostentador. É o retrato dele que se destaca e é “emoldurado” pelas portas que conectam as três salas. A descoberta e exploração do ouro no Brasil foi grande ao longo de parte do seu reinado, sobretudo nas primeiras décadas do século XVIII. Por isso, nessa época, Portugal também conseguiu patrocinar obras maiores, como o Palácio Nacional de Mafra e o Aqueduto de Lisboa. A Biblioteca Joanina, portanto, exalta esse momento da história e leva esse nome por ser a marca do rei.
Capela de São Miguel
Saindo da biblioteca, logo ao lado está a Capela de São Miguel. Na minha opinião, uma verdadeira preciosidade. Realmente foi uma visita que me emocionou.
A atual estrutura dela é quinhentista, construída no reinado de D. Manuel I, o Venturoso (que era rei de Portugal na época da viagem do Vasco da Gama a Índia e da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. É também de seu reinado o início da construção da Torre de Belém e do Mosteiro dos Jerónimos).
Vemos os detalhes da arquitetura manuelina no portal e nas janelas (com elementos decorativos sempre presentes, sobretudo com a esfera armilar e a cruz da Ordem de Cristo, além de cordas entrelaçadas e motivos vegetalistas, por exemplo). Entretanto, há vários elementos posteriores em seu interior, como o impressionante revestimento de azulejos, de 1613.
Aqui são celebradas missas aos domingos e também casamentos de pessoas vinculadas a universidade.
Loja de suvenires e Torre
Junto a Capela também está uma lojinha com suvenires relacionados a universidade, caso tenha interesse.
Ao sair da porta principal, do seu lado esquerdo, você verá também a entrada da Torre. Ela não está incluída nesse bilhete. Custa mais 1€, caso queira ter uma vista panorâmica da região. Como a subida tem alguma limitação de acessibilidade, feita por mais de 200 degraus, não é recomendada a todos os visitantes – sobretudo a quem sofre de claustrofobia e doenças do coração, além de baixa mobilidade.
Antigo Palácio Real
Siga para o antigo Palácio Real, subindo pelas escadarias laterais ou centrais – aquelas mais emblemáticas da universidade. Você poderá conhecer algumas das salas, com destaque especial para a emblemática Sala dos Grandes Atos (ou Sala dos Capelos), onde acontecem as principais cerimônias da Universidade. Anteriormente, esse espaço já era muito importante para o palácio, pois aqui ficava a Sala do Trono – onde os reis foram coroados.
Onde hoje está localizada a Universidade de Coimbra, havia aqui na Idade Média o Castelo de Coimbra – totalmente destruído – e o Palácio Real, o mais antigo do país. Foi neste espaço que nasceram diversos membros da família real e também foi a base principal dos primeiros reis de Portugal.
Coimbra deixou de ser capital em 1255, quando o rei D. Afonso III decidiu se mudar para Lisboa, passando a utilizar permanentemente o Paço Real no Castelo de São Jorge. Mas curiosamente, até hoje, nenhum documento foi assinado fazendo essa troca oficial da capital de Portugal para Lisboa.
Nas paredes da Sala dos Grandes Atos estão os retratos de todos os reis e rainhas de Portugal. Uma curiosidade é que os quadros dos dois últimos reis do país, D. Carlos e D. Manuel II, foram alvejados em 1910 por um grupo de estudantes radicais (o Falange Demagógica). Na ocasião da instauração da República, eles se revoltaram e, entre suas exigências de reforma no ensino da Universidade, estava a extinção da Faculdade de Direito. Aos olhos deles, a faculdade permanecia do lado da extinta monarquia. Há ainda marcas dos tiros nesses quadros, se você observar com atenção.
O Fado de Coimbra também está ligado a Universidade. Saiba mais!
Edifícios para visitar junto ao antigo Colégio de Jesus
Saindo do Palácio e do Paço das Escolas, seguimos sempre em frente pela via principal da universidade e, junto a estátua do rei D. Dinis (responsável pela criação da universidade), viramos a esquerda para os edifícios dos antigos Colégio de Jesus (Faculdade de Philosophia) e Laboratório Chimico. Ambos reúnem salas que, juntas, formam o Museu da Ciência de Coimbra.
Museu da Ciência de Coimbra
Laboratório Chimico
Iniciamos a visita pelo Laboratório Chimico, um edifício do século XVIII que foi construído para o ensino das disciplinas de Química Experimental durante a reforma da Universidade feita pelo Marquês de Pombal (tal reforma tinha como objetivo central o aprofundamento efetivo no estudo das ciências, da matemática e da filosofia).
Por lá, podemos ver uma exposição permanente e interativa chamada “Segredos da Luz e da Matéria” que une o contato com objetos e dispositivos multimédia a uma explicação bem didática sobre a evolução da ciência utilizando a luz como fio condutor. A outra sala é dedicada a exposições temporárias (em nossa visita, uma bastante interessante sobre os jesuítas em Portugal).
O Marquês de Pombal foi uma figura muito marcante para a história de Portugal. Entre suas principais ações estão a reconstrução de Lisboa pós-terremoto de 1755, a criação da primeira região demarcada no mundo para a produção de vinho (neste caso, com o objetivo de proteger o comércio e a qualidade do vinho do Porto) e essa reforma do ensino no país.
Gabinetes de Física Experimental e História Natural
Atravessando a rua está o Colégio de Jesus, com salas importantes que também pertencem ao Museu da Ciência. Esse edifício foi remodelado na época do Marquês de Pombal, entre 1773 e 1775, e adaptado para a instalação dos Gabinetes de Física Experimental e História Natural. Vale muito a pena visitá-los. Primeiro, pelas salas que têm mobiliários originais lindíssimos. Depois, pela coleção rara e muito expressiva de instrumentos de Física frente a Europa.
Jardim Botânico de Coimbra
Você vai notar que no mapa da visita completa da Universidade de Coimbra também consta o Jardim Botânico. A entrada é gratuita, não é necessário ter o bilhete para visitá-lo.
Entretanto, ele faz parte do complexo da Universidade, pois também foi fundado no século XVIII pelo Marquês de Pombal – na ocasião da reformulação do ensino na Universidade de Coimbra. Este jardim servia como parte complementar dos estudos de história natural e medicina.
Se você tiver alguns minutinhos no seu roteiro, vale a pena ir até lá. Ele está muito bem cuidado e é um recanto de paz em meio aos sons urbanos de Coimbra. :)
Viaje a Portugal com tudo organizado