Com essa entrevista, ganhei um novo amigo. Já havia convidado o escritor brasileiro José Santos para falar um pouco sobre sua experiência lusa aqui no Cultuga. Porém, a história dele era tão rica, que acabei por partilhar um bate-papo com ele também na Rádio Trianon, quando estivemos juntos no programa Portugal Dentro de Nós, com a querida Adriana Cambauva.
Para quem não sabe, o Cultuga tem dois boletins semanais nesse programa, às terças e sextas. E foi na última terça, dia 31, que convidei José Santos para participar da atração conosco. Por lá, ele nos contou da vivência que teve em Portugal para a produção de uma série de livros – a começar por Viagem às Terras de Portugal, da editora Peirópolis, que será lançado na 22ª Bienal do Livro de São Paulo.
Além disso, o escritor, que divide um pé lá (PT) e outro cá (BR), ainda tem um projeto lindíssimo com o escritor português José Jorge Letria – “uma espécie de Ziraldo português”, como José Santos gosta de exemplificar. Ambos se destacam na literatura infanto-juvenil. Agora, partilham um interessante intercâmbio literário e, em breve, vão lançar um livro que mostra uma troca de e-mails deles sobre as culturas dos dois países.
Um outro trabalho dele que deve sair nos próximos meses é um dicionário português-português em parceria com o estúdio Maurício de Souza. Acompanhe o bate-papo especial para o Cultuga e trechos da participação dele no programa Portugal Dentro de Nós.
Quando surgiu o seu interesse por Portugal? Tem alguma referência familiar?
José Santos – Meu interesse é bem antigo, já que uma parte de minha família é portuguesa. Meu avô materno é de S. Martinho do Porto e duas de minhas tias também se casaram com imigrantes portugueses. De modo que passei a minha infância ouvindo histórias e mais histórias das terras portuguesas e meu interesse só fez crescer.
Essa viagem, de 2009, foi sua primeira estada no país ou já esteve lá em outras oportunidades? Por que essa ocasião para escrever o livro?
José Santos – Sempre quis ir conhecer Portugal, desde cedo. Mas só tive condições de fazer minha primeira visita em 1999, a trabalho. E seguiram outras, embora bem rápidas. Sempre voltava achando que faltava muito a conhecer. E essa sensação sempre me acompanha. Em 2009, resolvi morar uma temporada no país para levantar conteúdos para uma serie de livros sobre temas portugueses voltados para crianças e jovens. Esse tema ainda não é muito explorado editorialmente por aqui e pude fazer varias viagens recolhendo ditados, quadras, histórias, e muitas palavras do portugues lusitano para um pequeno glossário. Alem de passar um mês inteiro indo diariamente à Biblioteca Nacional pesquisar – que foi também uma grande viagem.
O que mais te inspirou em Portugal?
José Santos – No meu caso, que sou luso-descendente, foi a busca das raízes comuns. Mas a questão da diversidade cultural me chamou muita atenção. Portugal pode ser pequenino em território mas é muito denso culturalmente. Viajamos cem, cento e cinqüenta quilômetros e tudo muda, a paisagem, os falares, a culinária, as histórias, a musica. É preciso viver mais uma vida para conhecer e escrever sobre tudo o que me interessa e inspira nas terras lusitanas.
Quais são os poetas lusos que mais gosta?
José Santos – A lista é grande, pois Portugal é um país de muitos poetas. Do século passado, admiro muito Alexandre O’Neil, José Régio, Eugénio de Andrade. Pessoa, principalmente no heterônimo de Ricardo Reis. Na área da literatura para a infância, gosto dos poemas de António Torrado, José Jorge Letria, Manuel António Pina, Alice Veira e Matilde Rosa Araújo.
Como se deu o encontro com Afonso Cruz (ilustrador luso de Viagem às Terras de Portugal) e de que modo surgiu a ideia de fazer um livro juntos?
José Santos – Vi na Feira do Livro de Lisboa vários livros ilustrados pelo Afonso. Gostei muito do seu traço, do seu jeito moderno e criativo de ilustrar. Consegui seu endereço eletrônico com uma amiga e escrevi dizendo que gostaria de conhecê-lo. Ele respondeu dizendo que morava no Alentejo mas que iria a Lisboa para conversarmos. Desse encontro surgiu uma boa amizade e uma boa parceria, que vai além do livro do qual falamos.
Em quais aspectos culturais você acha que Brasil e Portugal se diferenciam? O que poderia ser feito para aproximar a cultura dos dois países?
José Santos – Estamos próximos de vivenciar uma boa oportunidade de intercambio cultural com a chegada do Ano de Portugal no Brasil e do Ano Brasil em Portugal. Portugal já conhece razoavelmente a cultura brasileira. Mas os brasileiros conhecem pouco de Portugal. Torço para que possamos entre 2012/ 2013 receber mais artistas e intelectuais portugueses por aqui e ter acesso às novidades da sua música, do seu teatro, do seu cinema e da sua riquíssima literatura. No meu caso, tenho trabalhado no projeto “Lá e Cá – Os Livros Viajantes”, em parceria com a escritora Selma Maria. Em maio, estivemos em Portugal divulgando 12 livros infanto-juvenis de autores brasileiros e agora fazemos o retorno, trazendo 12 livros de autores portugueses para divulgar nas escolas brasileiras.
Viaje a Portugal com tudo organizado